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Foto do escritorCaio Mouco

Moda "Made-in-Brazil"

Em um mundo globalizado e tecnológico, a comunicação deixa de ser limitada pelo tempo ou pela localização e depende apenas de um celular (ou um computador) e uma rede de internet. Esse processo que não passa de milésimos de segundos nos permite, por exemplo, acompanhar um desfile em tempo real em Londres, ou acessar as fotos recém tiradas em Nova Iorque. Devido a um pensamento europeu e voltado ao mundo anglo-saxão, a população brasileira tende a supervalorizar a cultura estrangeira ao invés da nacional e, por ser um elemento cultural, a moda também é submetida a este processo.

A indústria da moda brasileira também é riquíssima! São diversas as marcas nacionais que possuem um processo criativo de dar inveja e elas merecem um lugar de destaque em nosso radar. A moda nacional explora de forma brilhante as várias formas de ser brasileiro e traduz com êxito a diversidade em nossa cultura, além de considerar sempre o impacto social, ambiental e político que ela gera. Por esse e diversos outros motivos, a indústria brasileira não deve ser renegada, mas sim reconhecida internacionalmente pela sua diversidade.


Fonte: Veja


Ativismo ambiental


516 milhões de hectares. Este é o território brasileiro que corresponde à área de floresta. É brasileiro o título de país com maior extensão de florestas tropicais, sendo a floresta Amazônica a maior do mundo. Além de contar com mais de 45 mil espécies em sua fauna e flora, sendo 5 mil apenas de árvores e 3 mil espécies de peixes, a floresta é berço de uma cultura ancestral, de quando o Brasil tinha sido descoberto apenas por seus povos nativos; a floresta é lar e sustento ainda de diversas comunidades indígenas, mas ela sofre perigo. De acordo com o projeto PRODES, apenas no ano de 2020, mais de 11 mil quilômetros quadrados da floresta foram desmatados e com recorrentes políticas públicas pouco favoráveis ao combate ao desmatamento, este número só tende a crescer.


A conscientização em relação à preservação do meio ambiente felizmente tem sido tema central de diversas discussões na sociedade civil, o que criou as condições devidas ao surgimento de movimento social organizado e fortalecido. Sendo parte fundamental da cultura e da identidade nacional, a luta pela preservação da maior floresta tropical tomou grandes proporções e fez com que diversos setores se conscientizassem do impacto de suas atividades e a indústria de moda nacional não ficaria fora dessa. Várias marcas estão surgindo com uma visão ambiental inerente a seus valores e aquelas que já estavam no mercado há tempos estão repensando em como sua atuação pode ser mais consciente.



A centenária Hering é um perfeito exemplo de como as marcas tradicionais buscam adaptar e atualizar sua consciência ambiental. A marca, fundada em 1880, já faz parte do DNA da moda brasileira e ela vem adotando um papel de protagonista e vanguardista neste movimento. Em 2020, a empresa lançou o concurso “Vestir o Brasil” que, além de estimular o empreendedorismo nas comunidades, também busca promover um positivo e significativo impacto ambiental. Neste projeto, jovens de todo o Brasil puderam desenvolver uma estampa a partir de uma reflexão sob a pergunta: “Como podemos vestir o brasil para uma sociedade melhor?”. A equipe com a estampa ganhadora faria parte da nova coleção da Hering e todo o lucro seria revertido para o Instituto Reciclar. Mas os esforços da marca não são esporádicos, uma vez que sua cadeia produtiva foi desenvolvida de modo a garantir a sustentabilidade como um dos pilares da marca. Dentre várias de suas iniciativas, vale destacar que 89% de sua matriz energética utilizada vem de fontes renováveis e mais de 80 toneladas de sobras de tecido e malha já foram reaproveitadas, sendo que a marca continua a estipular metas de redução de seu impacto ambiental.


Fonte: Lilian Pacce


A nova Aluf, marca fundada e dirigida por Ana Luisa Fernandes, que estreou nas passarelas do São Paulo Fashion Week (SPFW) somente em 2018, também traz consigo um evidente posicionamento social e ambiental. A marca produz suas roupas com matéria prima exclusivamente brasileira e sustentável. Concebida em seu trabalho de conclusão de curso, a Aluf é fruto de um questionamento de como a moda poderia trazer alguma solução para a sociedade e, como bem pontua, “criar uma coleção de moda é lindo, mas, no fim das contas, é só mais um lixo produzido. Ninguém precisa que exista mais uma roupa no mundo.” É deste ponto que a marca parte, sendo a sustentabilidade não só uma parte, mas a obrigação. O meio que Ana usou para conseguir instituir esse pensamento foi através do uso de matéria-prima nacional, da procura por fornecedores sérios e engajados com a preocupação em reduzir qualquer tipo de descarte.


Fonte: Vogue


Do Brasil para o mundo


A carioca Osklen, muito popular nacional e internacionalmente, também se dispõe ao apoio à sustentabilidade. Fundada em 1989, a marca segue o lema de as sustainable as possible(em tradução livre, o mais sustentável possível) e deixa este comprometimento evidente em suas peças. Sua postura de sustentabilidade é baseada em três pilares: regenerate life; re-design waste; e respect our people (em tradução livre, regenerar vida; repensar o desperdício; e proteger nosso povo, respectivamente). Além de ter seus esforços reconhecidos no país, a Osklen, sendo a primeira marca brasileira a conseguir este título, ganhou em 2019 a certificação de excelência sustentável da GCC Brandmark (Green Carpet Challenge Award), que consolidou ainda mais sua presença internacional. Presente nos Estados Unidos, na Grécia e no Uruguai, a marca está em constante crescimento no mercado internacional e celebridades, como a modelo Kaia Gerber, já se mostraram fã da marca. Mas a Osklen não é a única a conquistar clientes ao redor do mundo.


Fonte: Osklen


Utilizada pela cantora Beyoncé em seu aniversário em 2018, a bolsa de palha da marca brasileira Nannacay (“irmandade das mulheres” em Quechua, língua indígena) tornou-se um hit do dia para o outro. Fundada pela economista Márcia Kemp, a marca visa empoderar a cultura latinoamericana e seus povos através do uso de palha, lã e tecidos de países sul americanos e do emprego das 120 famílias que produzem para a marca. Segundo Márcia, “meu trabalho não é apenas valorizar o artesanato regional, mas contribuir para o crescimento econômico e sustentável de comunidades indígenas e de artesãs”. Além de promover tamanho impacto social, a Nannacay é destaque da Fashion Label Brasil, iniciativa de Internacionalização da Moda Brasileira de Valor Agregado criada pela Associação Brasileira de Estilistas (ABEST) em parceria com a APEX-Brasil. A internacionalização da marca não só faz com que a cultura brasileira e latinoamericana seja exportada, mas também faz com que a moda nacional ganhe notoriedade internacional, como representado pelo ingresso da Nannacay no e-commerce de luxo Farfetch.


Outra marca brasileira que já dominou o mundo com diversas lojas em mais de 20 países é a da brasileira Adriana Degreas. A marca, que carrega seu nome, é voltada para o setor de beachwear de luxo, tendo artistas e celebridades nacionais e internacionais como consumidoras assíduas de suas coleções. Adriana mora hoje nos Estados Unidos, o país onde mais possui lojas físicas, e ostenta uma lista longa de figuras internacionais que já vestiram suas peças, como a supermodel Naomi Campbell, a dj Paris Hilton, a modelo Gigi Hadid e a cantora Demi Lovato. Adriana usa de matéria prima 100% brasileira em suas coleções e usa da Bain Couture como Norte em seu processo criativo, como bem o define pelo “uso de tecidos não convencionais, aplicação de técnicas de moulage (modelagem tridimensional), com produção em escala limitada em cores clássicas e estética atemporal.” O ramo da moda praia, adotado pela Adriana Degreas, é o de maior destaque internacional nas exportações da indústria da moda brasileira. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), o Brasil é referência mundial em design de moda praia e possui a maior capacidade de despertar o interesse dos compradores de outros países.



REFERÊNCIAS


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE CONFECÇÃO. Perfil do Setor. Disponível em: https://www.abit.org.br/cont/perfil-do-setor. Acesso em: 26 abr. 2021.

ADRIANA DEGREAS. Adriana Degreas. Disponível em: https://adrianadegreas.com.br/. Acesso em: 26 abr. 2021.

APEX-BRASIL. Nannacay é destaque em site de referência internacional em moda sustentável. Disponível em: https://portal.apexbrasil.com.br/noticia/nannacay-e-destaque-em-site-de-referencia-internacional-em-moda-sustentavel/. Acesso em: 26 abr. 2021.

ECONOMIA UOL. Economista deixa IBM para vender bolsa de palha de artesãs de Peru e Brasil. Disponível em: https://economia.uol.com.br/empreendedorismo/noticias/redacao/2017/02/02/economista-deixa-ibm-para-vender-bolsa-de-palha-de-artesas-de-peru-e-brasil.htm. Acesso em: 26 abr. 2021.

ESTADÃO - CULTURA. Referência em moda praia, Adriana Degreas fala sobre o processo de internacionalização da marca. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/noticias/moda,referencia-em-moda-praia-adriana-degreas-fala-sobre-o-processo-de-internacionalizacao-da-marca,70003576113. Acesso em: 26 abr. 2021.

FORBES. Osklen recebe selo internacional de excelência sustentável. Disponível em: https://forbes.com.br/principal/2019/07/osklen-recebe-selo-internacional-de-excelencia-sustentavel/. Acesso em: 26 abr. 2021.

FUNDAÇÃO HERMANN HERING. Vem aí a primeira edição da Oficina Vestir o Brasil. Disponível em: http://fundacaohermannhering.org.br/new/fundacao/vem-ai-a-primeira-edicao-da-oficina-vestir-o-brasil. Acesso em: 26 abr. 2021.

HERING. Hering.eco. Disponível em: https://www.hering.com.br/store/pt/hering-eco. Acesso em: 26 abr. 2021.

OSKLEN. Osklen - Sustentabilidade. Disponível em: https://www.osklen.com.br/sustentabilidade. Acesso em: 26 abr. 2021.

REVISTA GLAMOUR. Conheça a designer de 24 anos que é destaque do SPFW. Disponível em: https://revistaglamour.globo.com/Moda/noticia/2019/10/conheca-estilista-de-24-anos-que-e-destaque-do-spfw.html. Acesso em: 26 abr. 2021.


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