top of page
Foto do escritorGiancarlo Zatz Pancioli

Desafios do empreendedorismo na moda

Sonhos & Desafios


Trabalhar na indústria da moda não é fácil nem convencional, seja por ser considerado muitas vezes um mercado de segunda importância, por estar “sobrecarregado”, por ser extremamente dinâmico, ou mesmo porque “não era o que os seus pais queriam”. E essas dificuldades se acentuam ainda mais quando se quer desenvolver uma marca própria, sem grande capital de investimento.


Desde a ideação e produção do produto a sua venda, a cadeia toda se torna muito mais complexa para aqueles que produzem em menor escala, sem falar que em um mercado tão antigo como o de moda a indústria já está muito bem consolidada, dificultando ainda mais que pequenos e novos negócios ocupem seu espaço.


Entretanto, em meio a tantas desvantagens existem alguns corajosos que decidem desbravar essa cadeia. E a fim de entender mais a fundo o processo de desenvolvimento dessas pequenas marcas e amplificar sua voz, seguem alguns empreendimentos paulistanos que acreditam que seus sonhos são maiores que seus desafios


Mali


Criada em 2018, a Mali é uma marca de roupas voltada para mulheres adultas, seus fundadores são Liliane Nascentes e Jorge Nascentes, casal que aos 48 anos decidiram se reinventar. Ambos nunca haviam trabalhado na área, Liliane sendo médica e Jorge empresário, no entanto, após anos em seus respectivos mercados de trabalho, perceberam que não se viam parando de trabalhar tão cedo. Liliane como médica enxergava muitos profissionais jovens com enorme competência entrando no mercado, neste cenário onde poderia ser impedida de continuar em sua área de atuação usual e sendo consumidora ativa de moda (roupas, revistas e etc.) se juntou ao seu marido e resolveram então criar a Mali.

Liliane Nascentes e Jorge Nascentes, fundadores da Mali


Sua fundadora sempre teve o questionamento do porquê roupas eram tão caras e desconfortáveis, e somado a isso, sentia que o mercado não atendia suficientemente mulheres que não se encontravam da mesma maneira que quando mais novas. E foi sobre essas questões que a Mali se concretizou.

Os desafios começaram cedo, a primeira ideia que Liliane e Jorge tiveram foi de revender produtos. São Paulo sendo um antro de moda eles acreditavam que seria possível comprar na cidade e revender os produtos no interior do estado, porém ao começar a procurar grandes lojas de atacado para comprar se depararam com alguns impedimentos. Para começar, grande parte das lojas não vendiam para marcas de determinada região, uma vez que tinham um acordo de exclusividade com uma revendedora, além disso não era possível escolher apenas as peças que os agradavam, era necessário comprar um número determinado de modelo e de quantidades.


Com o plano de revenda não concretizado, decidiram que iriam produzir suas próprias peças e abrir sua confecção. Mas como duas pessoas sem nenhum conhecimento sobre tecido, modelagem e costura iriam desenvolver suas roupas? Começaram então a procurar sobre tecidos, quais seriam então os ideais para sua marca. A partir da ideia de trazer conforto por um “bom” preço, escolheram o moletom, posteriormente adicionando o plush e o couro ecológico. A introdução de cores para Liliane foi uma tarefa difícil, uma vez que ela gostaria de vender apenas produtos que a agradassem, algo que com o tempo foi superado. Tendo então a matéria prima já em mente, contrataram uma modelista e costureiras e desenvolveram suas primeiras peças.


A Mali então tomava forma, com suas peças desenvolvidas Liliane e Jorge começavam a vender seus produtos. Entretanto as roupas de plush estavam tendo sua costura desfeita após algum tempo, e ao perguntarem as suas costureiras, descobriram que seria necessário um profissional destinado a produção de cada tecido, uma vez que cada material teria uma forma diferente de confecção.


Tendo a questão do desenvolvimento dos produtos resolvida, as vendas eram seu foco. Ambos sendo de uma geração não tão familiarizada com as redes sociais, postar as fotos no Instagram (seu canal digital principal de vendas) se tornou uma dificuldade, ambos se sentiam inseguros com seu conteúdo e sem um bom engajamento. Tendo em vista a importância de uma boa presença no mundo digital, contrataram uma colaboradora para cuidar da parte do “feed”, conseguindo assim melhor seu engajamento.


Hoje a Mali tem dezenas de produtos e vem crescendo suas vendas no meio digital. Embora tantos desafios, Liliane e Jorge não pensam em desistir tão cedo de seu sonho.

Conjunto de Plush


Oníria


Nascida em Araçatuba, interior de São Paulo, Clara Cavalcanti veio para cidade estudar publicidade e propaganda, onde atuou durante 8 anos. Insatisfeita com sua área de trabalho e enxergando uma carência no mercado da moda, em 2018 demitiu e lançou sua primeira coleção no final de 2019.

Clara Cavalcanti, fundadora da Oníria


Clara acreditava que o mercado de pijamas no Brasil não atendia todas as necessidades dos consumidores, sendo alguém que sofre de insônia, um pijama de qualidade por um preço não exorbitante, é muito importante. Além disso, quando viajava para outros países, percebia uma gama muito maior de lojas de pijamas com diversas faixas de preços. A ideia então de desenvolver uma marca começou como uma brincadeira “Se um dia eu ganhar na Mega Sena vou abrir minha marca de pijamas”, iniciativa que foi se desenvolvendo até Clara concluir que nunca iria ganhar na Mega Sena e sua única opção de alcançar seu sonho seria de fato abrindo sua loja. E sobre todas essas ideias e motivações nasceu a Oníria.


Procurando conhecer melhor a área, começou um curso de modelagem no SENAI, por mais que soubesse que contrataria alguém futuramente para tratar da questão, acreditava que uma visão geral sobre o tema era fundamental para trabalhar com produção de roupas. Em seguida cursou design de moda na Escola Panamericana, onde desenvolveu um afeta ainda maior pela ideação e confecção de vestuário, se refletindo na Oníria, que agora começava a não se tratar apenas de pijamas, e sim de roupas no amplo significa; sem distinção gênero e nem de ocasião.


Para sua fundadora, a colaboração dentro do mercado de moda é muito restrita, dificultando para marcas pequenas e sem apoio externo se desenvolverem, desde achar uma confecção a encontrar uma costureira, tudo seria “segredo de empresa”. No entanto, com um enorme apoio de seu amigo, que já havia conquistado um grande espaço na indústria, Clara conseguiu ter acesso a serviços fundamentais para a estruturação da Oníria.

Sendo a única sócia em um pequeno empreendimento, sentia muita dificuldade em gerenciar sozinha todos os processos decorrentes de seu negócio; então no final de 2020 sua amiga, Camila Maluly entra como sócia da Oníria. Hoje Clara consegue focar mais na parte criativa e Camila cuida mais do financeiro, administrativo e redes sociais, mas é importante ressaltar que por continuar uma pequena marca, todos ainda fazem um “pouco de tudo”.

Camila Maluly, sócia da Oníria

Embora sua fundadora acredite que ainda não tenham conseguido atingir a estética que gostariam, por erros e acertos a Oníria vem se desenvolvendo no mercado, construindo pouco a pouco seu espaço.


Bonne Soirée


Criada por Raphaelle Marie Françoise, no ano de 2020, em meio a pandemia, a Bonne Soirée tomou forma, trazendo consigo não apenas produtos de vestuário, mas um sonho de desenvolver uma marca que expressasse uma mistura do luxo clássico com um conceito cosmopolita.

Raphaelle Marie Françoise, fundadora da Bonne Soirée


Sua fundadora participa de toda a cadeia produtiva de sua marca, desde a ideação à venda. E embora sua marca seja muito recente, já conta com duas coleções. Raphaelle faz publicidade e propaganda, algo que a ajudou a desenvolver toda a estratégia de comunicação da Bonne Soirée.


No entanto, o medo foi um enorme obstáculo para começar seu empreendimento. A moda por ser muito dinâmica e sazonal desmotiva muitos dos seus potenciais empreendedores. Porém com a ajuda de sua mãe, superou o sentimento e foi em busca de seus sonhos, algo que segundo a própria, foi a melhor decisão que poderia ter tomado.


E embora suas conquistas tão cedo, como todos sabemos, desenvolver uma pequena marca num mercado como de moda, é um grande desafio. Para começar, os custos de produção, para desenvolver uma calça numa boa confecção, Raphaelle gasta mais de 200 reais por unidade, preço que impossibilita uma margem de lucro alta para sua empresa. O marketing também se tornou um obstáculo para seu negócio; a primeira coleção vendeu muito bem já a segunda, provavelmente por conta do agravamento da pandemia, não teve o mesmo engajamento.


E em meio a tantos altos e baixos, Raphaelle está mais satisfeita com sua escolha, e cada dia mais segura que seu negócio é promissor.


Mioli


Formada em direito no Largo São Francisco, Myriam Pancioli, como em diversos outros empreendimentos na moda, “abdicou” de sua profissão e partiu para uma jornada de autoconhecimento, seguindo sua verdadeira paixão; e aos 26 anos criou a Mioli.

Myriam Pancioli, fundadora da Mioli

Desde jovem idealizava que um dia entraria na USP e lá cursaria direito. No dia que passou, a felicidade foi tanta que nem sequer podia acreditar. No entanto, ao decorrer do curso e de suas experiências no mercado de trabalho, chegou à consideração de que aquele não era seu lugar. O processo não foi fácil, desconstruir todo um caminho já planejado em sua cabeça. Entretanto, quando se permitiu seguir aquilo que realmente amava, sentiu que estava até que enfim no lugar que pertencia.

Mas desenvolver uma pequena marca no mercado de moda nacional não é uma tarefa fácil, portanto Myriam sabia que seria necessário um diferencial. A Mioli então nasce não apenas como uma marca que vende suas roupas, mas como uma forma de empoderamento; desde seu nome “Mioli”, que se assimila a sonoridade de “me olhe”, um sentimento se constrói. A alma da marca começa a se desenvolver então, espelhada a essência de sua fundadora; tendo como sua principal razão ser “aliada das mulheres”, trazendo confiança e atraindo admirações, fazendo de quem a veste protagonista da sua história.


Partido para produção, os desafios se acentuam ainda mais, a compra de tecidos se torna um grande obstáculo. Segundo sua fundadora, para conseguir tecidos de qualidade, na maioria dos casos, é necessário comprar em grande quantidade, o que aumenta o risco de não vender todos os produtos (ou até dos mesmos não “se pagarem”); e quando é possível comprar em pouca quantidade, os preços se tornam exorbitantes, custo que terá que ser voltado aos clientes, o que por sua vez aumenta o risco de não comprarem. Somasse a isso o fato de que compras em grande quantidade acompanham melhores formas de pagamento. Ou seja, grandes mercados conseguem preços mais competitivos em detrimento de pequenas marcas.


Como se já não houvessem desafios o suficiente, entra a pandemia, e a cadeia inteira atrasa. Para começar, falta papelão para o pacote de e-commerce, os tecidos também são fortemente influenciados, funcionários acabam se contaminando com o COVID-19 e são afastados, e por fim as reuniões sendo virtuais, dificultam partes do processo, como: escolha de tecido, modelagem e prova de peças piloto.

Em contraponto a tantos obstáculos, Myriam diz ter a cada dia mais certeza de que tomou a melhor decisão; e lançará sua primeira coleção em breve, contando com boa divulgação e vendas.


Comments


bottom of page