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Foto do escritorPedro Feitosa

Street Style, Cultura e Hype

O Street Style, embora com uma simples definição: estilo de moda oriunda das ruas, moldado a partir de diversas influências, sem diretrizes pré definidas e com constantes variações dinâmicas, representa um espaço imprescindível na atualidade. O termo “streetwear” é muito comum no mundo moderno da moda, sua presença está em diversos canais de comunicação e, sem dúvidas, nas ruas. De fato, a tradução literal dos termos supracitados é de certa forma básica, todavia, membros da cultura indagam-se com tamanha presença e força que essa vertente da moda obtém. Virgil Abloh, diretor artístico da Louis Vuitton e fundador da Off-White, em entrevista a Hypebeast Magazine, interpreta o streetwear como um Movimento de Arte.


O streetwear surgiu nos anos 80 e tem raízes na Califórnia e em Nova York. Moldando-se a partir de influências do skate, surf e hip hop e foi um movimento com ascensão contínua. O interessante dessa junção de influências é que todas (assim como a moda) são expressões artísticas de identidade que sofreram por inúmeras problemáticas sociais, portanto, muito além de uma vertente de estilo o streetwear é um movimento cultural e político, sendo fundamental compreender sua história, grandeza e representatividade para diversas culturas. Assim como quaisquer fenômenos culturais, o streetwear é uma derivação oriunda de uma mudança que deu amplo controle à massa social, englobando moda, música e arte.


A conexão entre uma vertente de estilo com um movimento cultural é sem dúvidas um fator contribuinte para o sucesso atual, e esse é um dos motivos a quais devemos aprender sobre a história do streetwear e compreender suas lutas subjacentes. O pioneirismo dessa vertente deve-se ao movimento negro, foi ela a comunidade responsável por seu molde. Podemos afirmar que a criação do streetwear foi um processo que começou bem antes dos anos 80. Entre 1950 e 1960, nas ruas do Bronx foi criado pelas PDC (pessoas de cor) o gênero musical Hip-Hop. Com uma ascensão gradativa em alguns anos o gênero floresceu chegando no Brooklin e em seguida espalhando-se pelo mundo afora. Foi a partir dos primeiros singles de rap que as primeiras tendências do streetwear foi estabelecida e é interessante contextualizar que a geração jovem de PDC, que trouxeram a vertente de estilo, passou por uma grande injustiça sistemática no período de Guerra às Drogas, refletindo em um tremendo encarceramento em massa e marginalização da comunidade pioneira. A música além de tendência de estilo era também uma forte via de resistência política em meio a injúria social da época.



Nos anos 90 o mercado do Hip-Hop introduziu-se em lojas especializadas e desde então o mercado do streetwear passa por uma ascensão exponencial. Em 2019, um estudo realizado pela consultoria PricewaterhouseCoopers estimou as vendas do streetwear em cerca de U$185bi de dólares, representando 10% do mercado global de vestuários e calçados. No mesmo estudo foi perceptível um consenso entre os consumidores do streetwear, onde 80% mencionaram a marca de skate oriunda de NYC, Supreme, como a “cara” da vertente. Em segundo plano obtemos a Nike, Off-White e a Adidas como representantes da vertente, e somente uma das quatro possui um CEO negro o que enfatiza a problemática de falta de representação contemporânea e embranquecimento de cultura, onde percebemos um domínio predominante branco, embora suas raízes culturais estabelecidas na negritude. É fato que marcas como Supreme, Stussy e até mesmo marcas de High Fashion como a Louis Vuitton e Vetements foram contribuintes para a ascensão e disseminação da vertente, todavia, em artigos realizados pela GQ Magazine e The New York Times, é notório a omissão do pioneirismo da comunidade negra americana.


Imprescindível mencionar também que não é pelo fato da criação do streetwear ser oriunda das PDC, que a vertente pertence somente aos mesmos ou que os negros são monolíticos no estilo. O streetwear como movimento cultural tem a missão de espalhar a sensação de pertencimento e uma de suas bases é a autenticidade, que anda unida com a pluralidade. É um movimento que saiu de baixo e conquistou camadas superiores de uma maneira sem igual no mundo da moda, refletindo uma democracia única no meio. O streetwear como uma forma de expressão oriunda da base, sua criação continuará vindo da base, nunca das grandes empresas que se apossaram da cultura. É magnífico ver uma vertente da moda tão abrangente, promovendo autenticidade e participação de pessoas de quaisquer raças ou classes sociais. Como por exemplo, no mesmo estudo supracitado foi perceptível uma presença grandíssima do mercado consumidor asiático, o que representa uma diversificação e amplificação positiva na vertente.


Supreme and the 90’s. Foto por Bryce Kanight


Em suma, a cultura negra não é um mero componente do streetwear, mas sim sua espécie de pilar, e para conceder a ela respeito, reconhecimento e representatividade devemos a princípio dar esses fatores ao seu povo que constituem a base. Omitir sua história gerou consequências no mercado do High Fashion tornando o streetwear como uma forma de apreciação e “medição” dos indivíduos brancos com poder aquisitivo em vez de reforçar a resistência subjacente dos negros.


Supreme skateboard team on Vogue Magazine


Hype


Outro reflexo contemporâneo do crescimento exponencial do streetwear é a cultura do Hype que se desdenhou a partir da vertente. Resumidamente, é uma "cultura" que pode ser definida pela obsessão de encontrar o próximo grande sucesso, promovendo altos níveis de excitação e adrenalina, como uma espécie de busca insaciável por exclusividade.


O Hype promoveu uma mudança absurda na indústria da moda. A movimentação de capital, a valorização de peças por sua baixa acessibilidade e estímulo à produção limitada são apenas algumas das inúmeras mudanças no mundo da moda. Todavia, o Hype se tornou um assunto polêmico em meio a cultura do streetwear e indaga inúmeros membros da comunidade sobre sua perspectiva futura.


É certo também que o Hype é constante, independente da época ou contexto, porém no momento atípico oriundo da pandemia do Covid-19 deu para questionarmos e analisarmos a obsessão em mantê-lo. Pessoas que dormem em filas cheias na frente de lojas em dias de lançamentos em um momento de crise sanitária, por exemplo, perceberão o quão fútil é? Provavelmente não. Emoções humanas entram no contexto e o desejo de saciar a exclusividade, o hedonismo, torna-se primordial em momentos de crise. Hype é o ciclo vicioso de lançamentos, colaborações e pop-ups. É a ideia de que tudo precisa ser viral, compartilhável, “dinâmico”. É novidade por novidade, comprar por comprar. Isso nunca para, sendo problemático, pois conforme o ciclo vai se intensificando é natural que cause impacto em causas como sustentabilidade e consumo excessivo.


Numa visão mais otimista da causa podemos enxergar a condição de que, inevitavelmente, cada compra é um ato político. No momento em que os consumidores estão cientes disso, e se olharmos para o Hype como uma situação em que o produto é promovido e discutido em espaços públicos da cultura com a finalidade de atrair a atenção de alguém, é possível que muitos se encontrem na “cultura Hype”, não só participando de drops em lojas, mas sim em uma mensagem ou movimento.


Enfim, se questionarmos a razão de algo ser vendido em questão de segundos, podemos encontrar um propósito bem pior daquele que imaginamos. Se questionarmos por que cedemos ao exagero, podemos perceber que não é nada mais do que uma pequena tolice. Contudo, o hype na cultura streetwear sempre existirá. E o seu futuro? Cabe a nós questionarmos.


REFERÊNCIAS


Bozinoski, Mónica.Vogue Portugal, “Hype-Notized" (English Version). Disponível em: < https://www.vogue.pt/english-version-hype-culture-vogue>. Acesso em 04 Apr. 2021.

Gonzales, Zoe. Lithium Magazine, “Streetwear and Its Roots in Black Culture”. Disponível em: < https://lithiumagazine.com/2020/08/29/streetwear-and-its-roots-in-black-culture/>. Acesso em 03 Apr. 2021.

Abloh, Virgil. HYPEBEAST Magazine “Issue 20: The X Issue”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KLq-0QU0VXo>. Acesso em 03 Apr. 2021.

REBEL MARKETS. “The Origins Of Streetwear: What Is It And How Do I Wear It?”. Disponível em: < https://www.rebelsmarket.com/blog/posts/the-origins-of-streetwear-what-is-it-and-how-do-i-wear-it>. Acesso em 03 Apr. 2021.


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